Tempos difíceis
Cumprindo o dever anual com a prevenção ao câncer de próstata, fui dia desses ao urologista e acabei por descobrir, inadvertidamente, que ele enfrentava momentos desafiadores em sua vida. Protegido pela luva descartável parcialmente lambuzada de gel, o médico iniciou o exame como de costume, embora tivesse de fato o ar distante; quando eu acreditava que a missão estivesse no fim, eis que o expert pôs-se a desabafar, falar de dramas que muitas vezes regrediam à sua infância, coisas que reservamos, via de regra, aos nossos terapeutas da mente; e eu ali, deitado na maca, pernas abertas, focado naquilo que, do meu ponto de vista, era realmente essencial. Iam já vinte minutos nessa sessão psicológica quando ele então desabou a chorar, deixando a situação ainda mais constrangedora; e percebendo sua intenção de enxugar as lágrimas que escorriam abundantemente em sua face, achei por bem intervir: “Com a outra mão! Com a outra mão!” Desse dia em diante minha vida só piorou, mas deixarei os detalhes para mais tarde. Há que se dar um passo de cada vez, não é mesmo?